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Clássicos elétricos: sim ou não?

| Revista ACP

As opiniões dividem-se sobre as vantagens e desvantagens desta transformação nos veículos históricos.

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A eletrificação chegou aos clássicos com a polémica a instalar-se entre aqueles que são a favor e os que são contra. Para uns, a substituição do motor a combustão por uma bateria elétrica num automóvel de outros tempos só traz benefícios e não belisca o seu valor histórico. Para outros, esta alteração desvirtua o conceito daquilo que é um clássico, mesmo que o processo seja reversível.

Miguel Oliveira pertence ao grupo dos que concordam com a eletrificação, a tal ponto que está decidido a transformar o seu Mercedes-Benz 230 SL Pagode de 1964 para o  utilizar mais vezes no dia a dia sem comprometer o ambiente com as emissões. Para este entusiasta de clássicos, substituir o motor a combustão por uma bateria elétrica “é uma oportunidade de agarrar o futuro que está aí, sem retirar a qualidade do carro”. “Com a eletrificação os clássicos ficam tecnologicamente superiores, mais ecológicos, mais potentes e mais económicos nos consumos e na manutenção, sem perderem a sua estética.

Neste aspeto deve-se aproveitar o melhor de dois mundos: usufruir do prazer de condução que um clássico nos dá, mas de forma mais evoluída em termos tecnológicos”, adianta. A acompanhar esta tendência estão algumas empresas que começam a especializar-se na transformação destes carros em elétricos.

É o caso da Vintage Vans, uma oficina dedicada ao restauro de modelos antigos que neste momento está a eletrificar uma carrinha Volkswagen “pão de forma”,  a pedido do proprietário. “Esta transformação surgiu no meio do processo de restauro da carrinha e a pedido do seu dono que quer passar a utilizá-la diariamente e, a pensar na questão ambiental, achou que seria interessante eletrificá-la. Como é a primeira vez que estamos a fazer isto, tivemos que nos preparar devidamente com o cuidado de não a desvirtuar”, diz António Velez, proprietário da Vintage Vans. Neste caso, o processo de transformação é reversível podendo a “pão de forma” voltar ao seu estado original e a poder ser, novamente, um veículo histórico. “Enquanto funcionar com a bateria elétrica, este modelo de 1961 vai ter uma autonomia de 150 km e mais velocidade”, esclarece aquele responsável que quanto a esta questão adota uma posição neutral, justificando haver “espaço para todos e que isso depende do gosto de cada um”.

“A conversão de veículos históricos para a energia elétrica não se enquadra com a sua definição de clássico.”


Também a Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA), organização dedicada à preservação, proteção e promoção de veículos históricos, entende a motivação de alguns proprietários para eletrificar os seus veículos e reconhece que, sujeitas à legislação e regulamentação, todas as modificações são uma questão de escolha pessoal. Mas alerta que “a conversão de veículos históricos, dos seus originais motores de combustão para a energia elétrica não se enquadra com a sua definição de clássico”.

De acordo com a FIVA um veículo histórico é “um veículo rodoviário de propulsão mecânica que tem mais de 30 anos e é preservado e mantido em condições historicamente corretas – não ser utilizado como meio de transporte diário e fazer parte da nossa herança técnica e cultural”.

Posto isto, “se algum proprietário, engenheiro ou fabricante optar por fazer essas conversões tendo por base um veículo histórico, recomenda-se fortemente que quaisquer alterações sejam reversíveis, com todos os componentes originais marcados e armazenados com segurança. Dessa forma o veículo pode, se assim se desejar, voltar ao seu estado original e pode novamente tornar-se num veículo histórico”, adverte aquela organização.

Para Jorge Mendonça Costa, um clássico no seu estado original “reflete todo um conjunto de sensações desde os cheiros aos ruídos” que ao ser eletrificado desaparece “alterando completamente a essência do carro e perda de valor”. E mesmo em termos de emissões, tem dúvidas quanto à sua redução por se tratarem de veículos que não circulam todos os dias.

Além de que “o carro elétrico não é assim tão inócuo se pensarmos nos gastos energéticos necessários para o ciclo de vida das baterias, desde o seu fabrico ao desmantelamento passando pelo armazenamento dos resíduos e reciclagem das mesmas”.

No entanto, este engenheiro mecânico aceita que se façam pequenas transformações nos clássicos que “melhorem a segurança do automóvel e seus ocupantes em termos de travagem ou suspensão” que também são reversíveis.

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