A perspetiva de um dos médicos mais conceituados - o Dr. Manuel Pinto Coelho* - sobre os erros que levam às doenças atuais e a importância da alimentação, da água, das hormonas e dos hábitos saudáveis, como fatores para uma vida mais saudável e mais longa.
Consegue-se mesmo “chegar novo a velho”?
Alguém tem dúvidas que tal seja possível?
Veja os exemplos:
A rainha Vitória começou a estudar “Hindustani”, uma das línguas mais difíceis, depois dos 75 anos.
O rei Gustavo da Suécia jogou 5 sets de ténis para comemorar os seus 85 anos.
Miguel Ângelo ainda pintava obras primas depois dos 80.
Benjamin Franklin tinha 84 anos quando escreveu ao Congresso americano apelando ao fim da escravatura.
Mark Twain e Júlio Verne escreveram os seus melhores livros depois dos 70 anos e Pablo Picasso executou obras primas já bem dentro dos 90.
Todos estes casos ilustram bem o que acontece a uma pessoa que não desiste de viver e continua a pensar e a agir, mantendo o interesse por si, pelo outro, pelos acontecimentos, pela carreira e por tudo que a entretenha ou divirta.
Viver mais e melhor foi sempre um desejo da humanidade. Qual é o segredo da longevidade?
Sem dúvida que reside na atenção consciente ao sistema imunitário e à saúde do intestino, e a fatores como o estilo de vida, ambiente circundante, nutrição, exercício e atividades lúdicas, bem como o bem-estar psicológico e a espiritualidade.
A este propósito concordo com Yuval Noah Harari, quando diz no seu livro “Homo Deus, História Breve do Amanhã” que, se no séc. XX o objetivo era curar os enfermos, hoje em dia a ideia é cada vez mais aperfeiçoar quem é saudável e dar-lhes uma memória superior, uma inteligência acima da média e capacidades sexuais de topo.
Este investigador, doutorado pela universidade de Oxford, diz que os novos objetivos da humanidade são a imortalidade, a felicidade e a divindade, e eu concordo plenamente.
Mas será que as pessoas estão interessadas em adquirir hábitos saudáveis?
Sim. Hoje em dia é uma realidade que a alimentação desequilibrada, depauperada dos principais nutrientes e plena de açúcares, glúten e caseína, causa mais doenças do que fumar.
Por isso, posso afirmar convictamente que as pessoas estão cada vez mais atentas ao papel gritante da nutrição.
Morre-se mais pelo que se come, do que pelo tabaco, acidentes ou factos ligados ao ambiente ou estilo de vida.
Penso, a este propósito, que já está em curso uma mudança de paradigma.
Qual é a melhor estratégia para que estejamos rodeados de bons alimentos?
Claramente apostar em alimentos biológicos e orgânicos, excluindo as toxinas ambientais e os alimentos processados, carregados de sal e açúcar que causam inflamação no organismo – o inimigo primeiro e último a combater.
Infelizmente ainda há muitas pessoas que se esquecem disto, daí o número crescente de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, hipertensão arterial, doenças autoimunes e neurodegenerativas, e cancro.
Infelizmente ainda, os saudáveis produtos biológicos e orgânicos estão na sua maioria fora do alcance das bolsas de muitas famílias, fenómeno este que urge contrariar.
Portanto, a melhor estratégia é, sem dúvida, evitar os alimentos que causam inflamação prevenindo assim uma série de doenças, cada uma mais grave que a outra.
Numa perspetiva do envelhecimento saudável, o objetivo é ajudar as pessoas a chegarem novas a velhas.
E quais são os alimentos que causam inflamação?
Essencialmente, três substâncias que nunca deveriam chegar à corrente sanguínea – o açúcar, o glúten de alguns cereais e a caseína dos laticínios - e o stress, igualmente responsável.
A boa notícia é que não é assim tão complicado fazer escolhas mais saudáveis que permitam ter uma vida mais ativa e saudável, sem doenças ou indisposições.
Que importância tem a água no organismo?
A água tem um papel importantíssimo no organismo. Além de participar ativamente em praticamente todos os processos metabólicos, ela intervém na digestão, na absorção, circulação e eliminação de muitas substâncias.
A sua ingestão é fundamental para combater a obstipação, manter a pele e o cabelo saudáveis e ajudar a prevenir e tratar diversas maleitas.
Hoje em dia é possível encontrar à venda em Portugal água do mar para beber. Quais são os benefícios em consumir esta água?
Antes de mais, é preciso distinguir água hipertónica (água do mar no seu estado puro) e água isotónica (água do mar diluída na proporção de 5 partes de água mineral para 2 partes de água do mar), que é o estado em que deve estar para a consumirmos (não mais de 1 litro por dia).
A água marinha, com um Ph alcalino entre 8.1 e 8.4, além de possuir a mesma composição do plasma sanguíneo no que diz respeito aos 118 minerais e oligoelementos constantes da tabela elementar, modifica ainda a voltagem da membrana celular, permitindo não só uma melhor hidratação da célula, como uma melhor desintoxicação da mesma.
Esta característica permite múltiplas aplicações práticas: uma ótima desinfetante e cicatrizante de infeções e feridas da boca; permite limpar a pele de impurezas e toxinas, tornando-a mais elástica e luminosa; permite ser um melhor nutriente celular, podendo melhorar problemas respiratórios e ser ainda uma eficaz relaxante muscular, pela quantidade enorme de magnésio que contém (1.500 vezes mais que a água comum, mineral).
Pela sua alcalinidade, combate ainda a acidez do estômago, contribui para alcalinizar o meio interno, acalma o apetite e regula o peso, sendo ainda uma ótima laxante pela quantidade enorme de magnésio que contém.
Além disso, a alcalinidade retarda o processo de envelhecimento, reforça o sistema imunitário e elimina toxinas.
Por outras palavras, a água do mar diluída beneficia e muito a saúde do organismo. Não é por acaso que Platão dizia que a água do mar cura todos os males!
À medida que envelhecemos, as nossas hormonas também envelhecem?
Uma das razões que leva ao envelhecimento são as hormonas (têm a capacidade de, à distância, estimular ou inibir a atividade de certos órgãos).
A partir dos 25 anos assiste-se a um declínio de cerca de 1 a 2% ao ano da sua produção, alterando o metabolismo, algumas funções orgânicas e a energia vital, ou não fossem elas os maestros de praticamente a generalidade dos processos metabólicos que nos sustentam a vida.
Hoje sabe-se que uma vigilância atenta das deficiências hormonais e uma eventual suplementação (com hormonas bio idênticas) em função dos resultados obtidos através da medição do perfil hormonal, permite otimizar a saúde física e psicológica e prolongar o tempo de vida.
Quantas vezes, níveis de colesterol elevados, um inexplicável cansaço ou nervosismo, uma perda de memória ou de líbido, entre muitas outras situações comuns no nosso dia a dia, correspondem a deficiências hormonais que, uma vez corrigidas, normalizam os valores e restituem à pessoa inesperados níveis de bem-estar!
As pessoas dotadas de um bom equilíbrio hormonal parecem mais novas, sem adiposidades supérfluas, com boa pele, cabelos grossos e brilhantes, com boa memória, uma vida sexual satisfatória, menos fatigadas, com uma sensação de saúde plena, ativas e felizes.
O que tem a dizer sobre o estado atual da Medicina?
Com muita pena minha assiste-se, hoje em dia, e cada vez mais, a uma perda do contacto com o doente.
Há uma aposta crescente nos protocolos, nas orientações, nas imagens e nas evidências em detrimento da medicina clínica, de inCLIinar para o doente, o que é uma pena.
O sistema médico está demasiado centrado em provas e verdades não percebendo que, conforme é referido pelo afamado cardiologista Michel de Lorgeril, o que pode parecer verdade hoje – uma qualquer teoria – pode muito bem não o ser amanhã.
“Evidências? Venham elas, desde que integradas numa atuação clínica baseada na experiência e em conhecimentos teóricos bem estruturados e fundamentados”, como dizia com propriedade o médico António José Barros Veloso.
A distinção entre governo, indústria, ciência e medicina está misturada, confusa.
O resultado é uma dose enorme de desinformação que custa bem caro ao consumidor.
A indústria usa a ciência para aumentar a procura pelos seus produtos de modo a produzir mais dinheiro.
Medicina baseada na evidência é nobre e faz sentido, o mesmo não se podendo dizer da medicina baseada nas finanças e no marketing.
*Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Doutorado em Ciências da Educação pela UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Pós graduado em Anti-Envelhecimento pela Universitat Autònoma de Barcelona
Membro Great Distinction da WOSAAM – World Society of Anti Aging Medicine
Membro da A4M – American Academy of Anti-Aging Medicine