Construído entre 1959 e 1965, o Maserati 5000 GT Coupe é um modelo extremamente raro, com apenas 34 unidades construídas nesses seis anos. Como se não bastasse, este carro agora descoberto foi originalmente desenvolvido para responder a uma encomenda feita pelo Xá do Irão, Mohammad Reza Pahlavi.
Com um motor V8 da então mais avançada tecnologia, capaz de debitar mais de 400cv, o propulsor tomou por base o bloco usado no Maserati 450S, usado na competição.
Dada a sua proveniência, o carro acabou mesmo por ficar conhecido como o “Xá do Irão”. Foi o próprio Reza Pahlavi que contratou Giulio Alfieri, o engenheiro chefe da casa do tridente, para criar uma versão mais estradista do motor 450S, com cilindros mais estreitos e curso mais longo.
O bloco 450S alterado foi depois montado num Maserati 3500 GT com uma carroçaria de alumínio feita por encomenda pela Carrozzeria Touring, fazendo uso do método Superleggera, o mesmo que seria depois aplicado em outros carros memoráveis, como o Aston Martin DB5.
A lista de magnatas capazes de pagarem os então exorbitantes 17.000 dólares pedidos pelo 5000 GT (perto do dobro do valor sugerido pelo fabricante para o 3500 GT) contava com os nomes do Presidente mexicano Adolgo López Mateos, o ator Stewart Granger, o industrial e principal acionista da Fiat, Gianni Agnelli, o empreendedor e desportista norte-americano Briggs Cunninham, o Conde Giuseppe Comola, Basil Read e o empresário italiano e criador da Lambretta, Ferdinando Innocenti.
A exclusividade do modelo, com pouco mais de três dezenas de unidades produzidas ao longo de seis anos, fez com que praticamente todas as unidades fossem montadas à medida e indo ao encontro de todos os pedidos feitos pelos compradores.
E se a exclusividade e pormenores ao gosto dos seus proprietários já tornavam este carro num gigante, também os avanços tecnológicos do motor faziam dele uma verdadeira máquina de sonho, com um bloco V8 a 90º construído numa liga de alumínio e com uma capacidade de 4.937 cc. No topo, uma dupla árvore de cames por cabeça, quatro carburadores Weber 45 DCOE, ignição mecânica Magneti-Mareli, duas velas por cilindro, cárter seco, caixa de 4 velocidades ZF (mais tarde atualizada para 5) e um potência de 325 cv às 5.500 rpm, ao que se juntava, ao mesmo regime, um binário de 488 Nm.
Se estes números só por si já são impressionantes, o que dizer então em 1956? Os carros de Fórmula 1 à época debitavam menos de 300 cv, pelo que esta atualização do motor 3500 GT era o equivalente moderno de introduzir um motor de 1.000 cv num turismo desportivo de luxo.
Os primeiros exemplares do 5000 GT vinham equipados com travões de disco frontais e tambor no eixo traseiro, mas mais tarde passaram a contar com discos de travão em todas as rodas – uma melhoria que se deve ter revelado muito útil dada a potência debitada.
Foram várias as carroçarias desenhadas e construídas para o 5000 GT, a primeira delas pela Touring, mas depois essa responsabilidade passou para as mãos da Carrozzeria Allemano, que acabou por produzir os 22 carros desenhados por Michelotti. A Bertone construiu um, desenhado por Giugiaro, a Pietro Frua três, a Carrozzeria Monteros dois, a Pininfarina um, bem como a Ghia, enquanto a Carrozzeria Touring fez ainda dois dos modelos mais tardios.
Contudo, de todos este exemplares, há um modelo de 1961 que agora se destaca. Perdido por muitos anos, até ter sido descoberto no Médio Oriente, este 5000 GT foi inicialmente comprado por Rubayan Alrubayan, um saudita entusiasta de carros que, nos anos 70 do século passado, acabou por deixar o carro durante décadas no exterior, ao sabor dos elementos.
Depois de falecer, os familiares de Alrubayan colocaram o carro dentro de portas para o preservar e, agora, decidiram coloca-lo à venda. O que acontece é que este 5000 GT é, precisamente, o único que foi construído pela Ghia, criado para Ferdinando Innocenti, o pai da Lambretta. Um historial como este faz com que o carro desperte as atenções dos colecionadores, ainda mais do que outro raro 5000 GT conseguiria.
Curiosamente, na porta direita do carro, em arábico, está escrito com spray a palavra “abandonado”, o que fez com que este Maserati estivesse destinado à destruição. Contudo, quis o acaso que este carro singular fosse salvo, não apenas das areias do deserto, mas também do compactador de automóveis.
A leiloeira RM Sotheby’s lista este veículo como fantasticamente completo, o que o torna numa gema para um futuro restaurador, com o motor e transmissão completos. A carroçaria é em aço e vai necessitar de trabalho considerável, mas uma boa equipa de restauro não deverá ter problemas em voltar a colocar o carro como novo e, de preferência, mantendo o máximo possível do metal original.
Caso esteja interessado saber mais sobre este fantástico carro pode obter mais informações aqui, o mesmo local onde ficará a saber que este 5000 GT vai a leilão com um preço estimado entre os 500.000 e os 700.000 dólares... sem reserva!
Fotos: Robin Adams ©2019 RM Sotheby’s