Nos últimos dias instalou-se uma discussão sobre a mobilidade e a segurança rodoviária em Lisboa que está ferida de lógica, propósito e respeito por quem vive ou trabalha na cidade. Não se questiona a pertinência dos meios de mobilidade suave enquanto atores do ambiente rodoviário, mas é altamente questionável a forma como está a ser desenhada e desenvolvida a estratégia seguida.
A propósito de uma tragédia que envolveu um ciclista e um automobilista, no qual se perdeu uma vida, o debate ressurge novamente nos extremos. O Automóvel Club de Portugal pugna pelo cumprimento da lei e não se pode pronunciar sobre o caso em si, que desconhece. Da mesma forma, todos os atores do ambiente rodoviário – automobilistas, ciclistas, motociclistas e peões – merecem respeito e têm de conviver de forma harmoniosa. Este é o ponto essencial que deveria estar sempre presente no pensamento de todos.
Da mesma forma, a segurança rodoviária conheceu algumas melhorias nos últimos anos, mas, tal como o Automóvel Club vem alertando desde 2007, o sistema de radares de controlo de excesso de velocidade nunca foi eficaz. Apesar dos desabafos dos sucessivos responsáveis municipais, a verdade é que nunca houve vontade política para pensar de forma integrada a mobilidade e a segurança rodoviária em Lisboa.
O mesmo se verifica em relação à mobilidade. De novo, a discussão ressurge nos extremos, a preto e branco, sem ponderação nem bom senso. Algumas ciclovias pop-up são disso um bom exemplo, colocando em risco a segurança e, pese embora o experimentalismo, só atrofiam ainda mais a economia local.
Todos, sem exceção, devem coabitar no ambiente rodoviário – carros, peões, bicicletas e motos – com respeito e civismo. É isso que se exige numa democracia da União Europeia, que pugna pelas liberdades e garantias de todos os cidadãos.
Lisboa, 16 de julho de 2020.