Amarante
- Igreja e Convento de S. Gonçalo – o convento dominicano foi construído no local de uma pequena ermida, onde foi sepultado o monge que, entretanto foi canonizado como S. Gonçalo. A construção foi iniciada em 1540, por ordem de D. João III e porque o local se tinha tornado alvo de grande devoção popular. Só 80 anos depois os trabalhos foram concluídos. É de arquitetura maneirista, da autoria do arquiteto Mateus Lopes e dirigiu as obras Frei Frei Julião Romero. A planta inicial do conjunto foi alterada no séc. XVII. Na frontaria tem uma galilé com arcos de volta perfeita, assentes em pilares sem decoração relevante. A galilé tem ainda uma rosácea e dois janelões que providenciam a luz do dia, para a igreja. A torre sineira é barroca, setecentista.
A parede lateral tem um portal retabular e uma galeria superior a que se chama “Varanda dos Reis” – a varanda ou loggia é constituída por cinco arcos de volta perfeita, apoiados em pilares, de cada um dos quais faz parte uma estátua de um dos reis que patrocinaram a construção – D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e D. Filipe II. A Varanda Real é encimada por seis pináculos.
O edifício tem três pisos, sendo o térreo o de maiores dimensões. No térreo e no acima existem nichos com imagens de santos, estando S. Gonçalo no 2º. Acima da cobertura, pode ver-se um zimbório circular, rematado por um lanternim decorado com azulejos seiscentistas. Merecem menção os claustros, um dos quais foi parcialmente destruído para dar lugar à construção da Câmara Municipal de Amarante.
Na empena da capela-mor e na parede virada a sul podemos ver duas imagens de S. Gonçalo de Amarante, em granito.
A igreja é de três naves, divididas por arcos de volta perfeita, tendo as laterais tetos de caixotões. O retábulo-mor é em talha dourada; a sacristia tem também teto de caixotões e dispõe de um belo lavabo da Renascença, de 1554, e de belo mobiliário, para além de belas pinturas, contando a vida de S. Gonçalo.
- Ponte de S. Gonçalo – pensa-se ter existido, no local, uma ponte romana, uma vez que era este o traçado da via que passava por Amarante, para ligar a Guimarães e Braga. Cerca de 1250, S. Gonçalo terá feito construir uma outra, no mesmo local, ou reconstruído a primitiva. Em 1763, ela desmoronou-se, por causa das cheias do Tâmega. O cruzeiro com o Sr. da Boa Passagem, que existia no meio da ponte, foi retirado pouco antes do desmoronamento e foi depois colocado na Igreja de S. Gonçalo, tendo passado a ser venerado como a Srª da Ponte. No séc. XVIII a ponte foi reconstruída, de acordo com projeto de Carlos Amarante, tendo sido colocadas, um ano depois da abertura ao trânsito (1791), quatro pirâmides, nos extremos da ponte, uma de cada lado.
Em 1809 esta ponte teve ainda um lugar preponderante na vida da cidade – foi aqui que teve lugar a defesa da Ponte de Amarante, durante as Invasões Francesas…
- Solar dos Magalhães – construído no séc. XVI, tem, no piso térreo e na fachada, um conjunto de arcos assentes sobre grossas colunas, ao gosto italiano, quinhentista. As restantes paredes, apresentam janelas de altura regular. No andar superior, o nobre, há, também na fachada, uma varanda a toda a largura e, nas outras paredes, existem janelas de sacada com varandim.
Apesar da defesa acérrima levada a cabo, na ponte de S. Gonçalo, os franceses tomaram conta de vários edifícios, entre os quais este. Infelizmente não se ficam pela invasão e utilização, incendiaram-no, tendo ficado só as paredes.
- Casa da Calçada - foi construída no séc. XVI, para residência principal do Conde de Redondo e, ao contrário de outros, este solar foi albergue dos comandos aliados, na época das invasões francesas, na defesa da região e do acesso ao Porto. Infelizmente, três dias depois da 1ª batalha, o edifício foi pasto das chamas e ficou completamente destruído. Mais tarde, foi comprado e reconstruído por uma família e, já no séc. XX, foi palco de encontros de políticos e intelectuais, tendo ficado completamente recuperado em 2001. A partir de 2003 passou a fazer parte da cadeia de luxo “Relais et Châteaux”
NOTA: Em 1954, com o slogan “Rota da Felicidade” um casal francês lançou as bases do que seria a mais prestigiada associação hoteleira do Mundo – a Relaix et Châteaux. A semente tinha sido lançada antes - em 1941 um casal, ambos artistas music-hall, adquiriu um hotel e iniciou um estilo de serviço de excelência, com alta qualidade, paixão pela comida e um estilo de vida especial. Em 1954, convidaram amigos, também eles donos de hotéis e restaurantes a constituírem uma rede que seria “la Route du Bonheur”, a Estrada da Felicidade… A cadeia estende-se agora por 60 países e a frase, o conceito criado há 60 anos continua a fazer sentido !
- Igreja de S. Domingos – foi construída entre os séc. XVII e XVIII, pela Ordem Terceira de S. Domingos. É também conhecida como Igreja de Nº Sr. dos Aflitos, cuja imagem aí está patente. Foi construída em estilo barroco com o campanário numa posição única – no canto da parede onde fica a entrada da Igreja. Fica mesmo junto à Igreja de S. Gonçalo.
Tem altares de talha dourada, setecentista, que existe também nas sanefas das janelas. As imagens datam da mesma altura, sendo a mais importante a do orago, já referida. São igualmente notáveis as de Stª Rosa Lima, no seu altar, do lado do Evangelho e, do lado da Epístola, a de Nª Srª do Ó
- Igreja de S. Pedro – a sua fachada é uma torre, rematada por um coruchéu e pela cruz da tiara papal. Construída no séc. XVII, supõe-se no local em que havia uma capela de S. Martinho, propriedade da Misericórdia de Amarante. É de nave única, com destaque para os vários elementos em talha dourada – altares, arco triunfal e sanefas das janelas. Para além disso, o corpo do templo é corrido por um silhar de azulejos seiscentistas, azuis e amarelos e tem abóbada de berço, com pintura neo-clássica. No altar-mor o teto é constituído por caixotões, com moldura em talha dourada.
- Casa da Cerca – é o que resta do Convento de Stª Clara, construído no séc. XIII, embora só a ele haja referências por volta de 1383, aquando da Carta de Proteção às Religiosas, de D. João I. Foi incendiado, durante as invasões francesas e foi depois recuperado por um emigrante no Brasil, tendo passado a Casa da Cerca que, hoje, alberga a Biblioteca e o Arquivo Municipal de Amarante.
- Museu Amadeu de Sousa Cardoso – homenagem a este pintor, natural de Amarante, dando também a possibilidade de conhecer e apreciar a sua genialidade, nas obras expostas, bem como mostrar as História local e dar a conhecer outros artistas, escritores, poetas, naturais de Amarante.
Mostra também elementos arqueológicos recolhidos na região mas, dedica-se de facto mais à arte portuguesa, pintura a escultura.
- Museu Rural do Marão – está instalado no lagar de azeite recuperado, da Quinta do Encontro e tem exposto arte sacra, peças de barro preto e, como não podia deixar de ser, peças e utensílios e artefactos ligados à atividade rural.
- Casa de Teixeira de Pascoaes – grande poeta do séc. XX, também natural de Amarante, um dos melhores escritores portugueses de todos os tempos.
Freguesia de Aboadela
- Ponte do Fundo de Rua – foi construída ou reconstruída, no séc. XVII. A inscrição que existe na base do cruzeiro à entrada da ponte tem aquela data mas não se sabe se ela é de facto românica, como aparenta, ou se esse tipo de arquitetura foi preferida e ela foi construída no séc. XVII. Crê-se que esta ponte terá sido construída para facilitar a movimentação dos crentes aos locais de peregrinação próximos de Amarante – S. Gonçalo, Stª Senhorinha de Basto, Srª da Lapa e mesmo aos caminhos de Santiago, que passavam por Amarante, para ligação a Guimarães, Braga e mesmo Galiza…
Freguesia de Freixo de Baixo
- Mosteiro do Salvador de Freixo de Baixo – a sua origem, como a dos outros nas imediações, é anterior a 1120, como referem os cronistas dos Cónegos Regrantes de Stº Agostinho que referem unicamente a bula do Papa Calisto II (1119-1124) e acrescentam “não temos mais notícias”.
Está situado num vale, onde antigamente se dividiam os concelhos de Stª Cruz de Ribatâmega e Basto, região pela qual passava, nessa altura, grande parte do “trânsito” entre o Minho e Trás-os-Montes. Em 1540 0 Mosteiro foi anexado ao Convento Dominicano de Amarante.
As caraterísticas românicas mantêm-se, apesar das várias intervenções, já no séc. XX. De notar a galilé, o claustros ou os seus vestígios, a torre sineira, que lhe dão monumentalidade
Freguesia de Gatão
- Igreja de S. João Baptista de Gatão – a paróquia de Gatão integrava, a vasta Terra de Sousa, durante a Idade Média. Era uma abadia que foi passando, tanto no domínio do eclesiástico como do civil e judicial, por várias dioceses e comarcas. Foi edificada entre os séc. XIII e XIV, conservando vários elementos românicos e pinturas murais que resistiram às intervenções feitas ao longo dos tempos. Na capela mor conserva duas imagens, uma de cada lado, sendo uma a de Cristo.
Na capela-mor e nave tem pinturas atribuídas a artífices dos séc. XV e XVI e ainda uma escultura da Virgem do Rosário, que é venerada e que está colocada na capela mor
Freguesia de Gondar
- Igreja de Stª Maria de Gondar – fica no lugar do Mosteiro, é românica e foi edificada no séc. XIII, outrora cabeça de um mosteiro, feminino, fica a meia encosta, no vale do Rio Ovelha.
A sua fundação está associada à família Gondar, nome importante, associado, desde tempos imemoriais à cristianização e controlo do poder local – durante vários séculos, este apelido era sinónimo de poder na região, influenciando a vivência religiosa da casa monástica.
No séc. XV, o Bispo D. Fernando Guerra, interessado na reabilitação dos espaços das igrejas e mosteiros decadentes, extinguiu este mosteiro, que foi entregue ao poder secular.
O primeiro pároco da Igreja, depois desta divisão, arranja, para a igreja, uma imagem da Virgem amamentando o seu filho, que passa a ser objeto de grande devoção. Gondar passou para a vigararia de Amarante, após a modificação dos limites das dioceses de Braga e do Porto.
Freguesia de Jazente
- Igreja de Stª Maria de Jazente – românica, sem grande informação sobre a sua construção, inclusive data exata – era de uma ordem religiosa, pertencia ao concelho de Gestaçô. Só é referida, a partir do séc. XVIII, eventualmente porque o Abade de Jazente, Paulino Cabral, poeta, era frequentador assíduo da vida mundana do Porto, na altura, participando em tertúlias e festas. Nos anos 30 do séc. XX foram realizadas obras de conservação, a cargo da paróquia. É imóvel de interesse público.
Freguesia de Lufrei
- Igreja do Salvador de Lufrei – contrariamente ao que é mais comum, esta igreja fica num vale, e não numa elevação. É românica, é de origem monástica, dos monges beneditinos de Cluny, adotada por Cister como o lugar ideal para a instalação das suas casas.
Albergava monjas beneditinas e, como o de Gondar, foi abandonado no séc. XV e transwformado em Igreja paroquial.
De notar que a tradição atribui a D. Mem de Gundar, da linhagem dos Gondar, a fundação dos três mosteiros de beneditinas – Gondar, Lufrei e Jazente.
Esta Igreja exerceu a sua função paroquial até 2001, altura em que foi substituída por uma nova igreja, devido à sua degradação
Freguesia de Mancelos
- Mosteiro de S. Martinho de Mancelos – fica no lugar do Mosteiro. Já existia, pelo menos em 1120 e era também como que de uma família, os Portoccarreiros, exercendo atividade mais nas áreas económica e política do que propriamente na difusão do Evangelho.
Em 1540, D. João III doou o Mosteiro de Mancelos aos religiosos de S. Gonçalo de Amarante, o que foi mais rtarde confirmado pelo Papa.
De referir a galilé, a torre que a ladeia, o antigo claustro e a antiga Igreja – embora tenha tido diversas atualizações, a Igreja conserva muito da traça românica, apresentando uma inscrição, junto da sacristia, com a data 1166.
Dos acréscimos barrocos, resta apenas o retábulo-mor joanino e imagens de S. Martinho, S, Francisco de Assis, S. Gonçalo e S. Domingos de Gusmão, estátuas que datam de finais do séc. XVII, início do Séc. XVIII.
Freguesia de Real
- Igreja do Salvador de Real – esta igreja fica na freguesia de Real, que no séc. XIII se chamava de São Salvador, daí o orago. Mas, existia também, na altura, o lugar de “Rial” que não tem a ver com realeza, mas do termo rial, que significa conjunto de várias nascentes – de facto, a freguesia fica num vale muito estreito e a igreja está edificada numa chã da encosta, isolada e ladeada por linhas de água…
Foi construída no séc. XIV e foi tendo alterações com o decorrer dos tempos. No séc. XVIII estava devidamente conservada e embelezada. Em 1938 foi construída uma nova Igreja Paroquial e esta foi abandonada. Posteriormente, nos anos 80, passou a ser considerada, como belo elemento do património.
Freguesia de Telões
- Igreja de Stº André de Telões – fica no lugar do Mosteiro, num vale que pertencia à Quinta da Granja Real que, segundo a lenda, tinha sido tomada ao neto do rei mouro, nas lutas da reconquista. Diz ainda a lenda que um dos senhores da referida quinta, fidalgo, piedoso, mandou erguer um mosteiro no referido vale, cujo primeiro abade se chamava Gusmão Pais. Estes acontecimentos, terão tido lugar no ano de 887…
Telões faz assim parte do grupo de mosteiros familiares existentes em toda aquela região, na mesma altura.
No séc. XVI estava abandonada, na prática a função de mosteiro e era unicamente uma igreja paroquial.
A Igreja foi profundamente transformada, ao longo dos tempos, conservando-se as caraterísticas românicas na cabeceira.
Freguesia de Travanca
- Mosteiro do Salvador de Travanca – segundo a tradição foi fundado no séc. XI e, ao longo da Idade Média tel grande influência no controlo económico, político e religioso daquela região, por ser detentor de grandes doações ou por boa administração dos seus bens.
No séc. XIV destaca-se por ter contribuído para as cruzadas com a elevada quantia de 1.800 libras. Foi administrado por frades beneditinos, nomeados de três em três anos, até finais do séc. XV e passou então a ser gerido por abades comendatários, cujas comendas findaram no ano de 1565. Todos os abades eram nobres ou filhos de nobres e, após esta altura, voltou a administração à sua organização anterior e passou por várias fases de reconstrução até que foi extinto, em 1834.
Só nos inícios do séc. XX volta a ter o papel anterior, por força de obras de restauro que foram feitas pelos serviços centrais.
A Igreja é do séc. XIII, românica, destacando-se pela ornamentação dos capitéis e pelas dimensões excêntricas. De notar, também, a torre do lado da Igreja que, na Idade Média, representava segurança, defendia como um castelo… Em 1916 foi classificado como Monumento Nacional
PERSONALIDADES LIGADAS A AMARANTE
- AMADEU DE SOUSA CARDOSO – nasceu em Manhufe, freguesia de Mancelos e, em 1905, com 18 anos de idade rumou à Escola de Belas Artes de Lisboa, para cursar arquitetura. Mais tarde segue para Paris, onde contacto com vários pintores portuguese lá radicados, frequenta os ateliers mas, após algum tempo passa a dedicar-se à caricatura. Passa depois a frequentar as aulas de um professor espanhol que fazem com que se interesse definitivamente pela pintura. Expõe em vários países, entre eles os Estados Unidos e quando, em 1916, regressado a Portugal há dois anos, expõe no Porto, apresentando obras abstratas, a cidade tradicional e burguesa, fica escandalizada, e agride o pintor que é hospitalizado. O mesmo acontece em Lisboa, os visitantes da exposição ficam escandalizados, à exceção de Almada Negreiros, que saudou o pintor como a “Primeira descoberta de Portugal na Europa do séc. XX”. O pintor morreu em 1918, ainda jovem, vítima da gripe espanhola da.
- TEIXEIRA DE PASCOAES – nasceu em Amarante, em 1887. Filho de agricultor abastado, nasceu no Solar de Pascoaes, nome que adotou, uma vez que o seu apelido era Vasconcelos. Foi advogado, no Porto, tendo seguido a carreira até se tornar juiz, já em Amarante. Em 1913 abandona esta carreira e dedica-se então à escrita, a “ser poeta”, nas suas palavras.
Na sua estadia no Porto conviveu com Leonardo Coimbra, Raul Brandão, Jaime Cortesão e António Patrício, o que terá tido influência na adoção de uma carreira literária.
- AGUSTINA BESSA LUIS – nasceu na freguesia de Real, em 1922 e bem cedo demonstrou a sua grande e apurada sensibilidade.
Tem escrito soberbos romances, tendo-se dedicado também ao teatro, televisão e ao cinema, neste caso trabalhou com Manuel de Oliveira. Ao longo do seu percurso, colaborou com diversos jornais, alguns deles notáveis e já desaparecidos como o Século, o Diário de Lisboa.
O romance a Sibila, publicado em 1953/4 valeu-lhe alguns prémios literários, à altura da publicação. Em 2004 foi contemplada com o prémio Camões.
Vários outros notáveis, em várias áreas como escritores, poetas, pintores, políticos são oriundos deste concelho, sendo difícil falar de todos. Mas, não se poderia deixar de falar de Paulino António Cabral, o Abade de Jazente, nascido a 6 de maio de 1720, autor de poesia sarcástica, crítica da sociedade da época em que viveu. Como já dito, o Abade conheceu bem a vida porque frequentou a vida mundana do Porto, de tertúlias e festas. De referir romance sobre o Terramoto de 1755 e que alguns poemas referem a História de Amarante.