O centeio e o milho eram, em tempos idos, designados por "pão" - depois de todo o processo de produção, o cereal era colhido e organizava-se malhadas (centeio) ou desfolhadas (milho)para separar o grão, as maçarocas da palha, que era enfardada, para servir posteriormente de pasto e cama para o gado. O grão era posteriormente moído nos moinhos de água.
Parte da farinha era usada para fazer o delicioso pão, melhor ainda porque era cozido em forno a lenha, o forno comunitário, cujo acendimento e utilização era sujeito a regras bem definidas - quem acendia, quem cozia primeiro, a ordem sequencial - se duas casas coziam simultaneamente, o que era possível, o pão era marcado de alguma maneira, para que não houvesse problemas.
Algo que acontecia, mais ou menos ao mesmo tempo por todo o concelho, eram as matanças de porco - seguia-se grande azáfama, em tratar das carnes, para conservação e fumeiro, de acordo com o fim a que se destinam - as destinadas a presunto são envoltas em sal, as destinadas a chouriços, paios são postas em vinha d'alhos. Neste caso, depois de ter tomado o gosto e retificado o tempero, é "afunilado" para a tripa, devida e previamente lavada. Só depois passa ao fumeiro, tal como as peças maiores. Na mesma altura, faz-se as farinheira, alheiras, o salpicão e todos os tipos possíveis de enchidos.
Esta é a preparação, a forma de conseguir belos enchidos, presuntos, petiscos para juntar à bela vitela barrosã, ao famoso cozido à moda do Barroso, acompanhado pelo pão e o vinho dos mortos... E o mel do Barroso?! É de chorar por mais!
O "Vinho dos Mortos" existe só no Concelho de Boticas - a designação, naturalmente, desperta o interesse e a curiosidade de todos sem exceção.
Das várias explicações para esta designação do vinho, uma parece a mais plausível, pelos fatos históricos e pela comprovada veracidade científica do processo - corria o ano de 1807, e as tropas francesas, comandadas pelo general Soult invadiram Portugal, pela 2ª vez. Quando os franceses chegaram à região, o povo, com medo da pilhagem de colheitas e não só, escondeu o que conseguiu. No caso do vinho, ele foi enterrado no chão das adegas, no saibro, debaixo das pipas e dos lagares.
Quando os franceses foram expulsos, os agricultores recuperaram as suas casas e os bens que tinham escondido e que sobraram. Ao tirar o vinho, pensaram que estava estragado. Descobriram depois, com agrado, que estava mais saboroso porque, pelo facto de ter estado enterrado, a temperatura constante, passou por uma fermentação, no escuro, que lhe deu novas propriedades: graduação de 10º/11º, palhete, apaladado e com gás natural.
Também por ter sido "enterrado", ficou designado por "Vinho dos Mortos". Obtido este resultado, por acaso, a técnica passou a ser utilizada, para melhorar a qualidade e a conservação.
Hoje em dia, são poucos os agricultores que produzem o Vinho dos Mortos, também porque só as vinhas sobranceiras à vila de Boticas e da Granja, plantadas nas encostas, têm condições de clima e solo adequadas à produção deste vinho, de sabor agradável, merecedor de ser apreciado.
Outro dos produtos abundantes na Terra de Barroso é o mel do Barroso, produto certificado DOP (Denominação de Origem Protegida) - os responsáveis por este produto, esta dádiva da natureza são, para além da mão e sabedoria do homem, são as abelhas, que depositam o mel nos favos das colmeias e o néctar das flores existentes nas encostas do Barroso, como as urze e o queiró. O mel que resulta é escuro, com aroma e sabor únicos, que o tornam rico e apreciado.
A realização de feiras têm divulgado este mel de excelência.