Uma expedição a terras marroquinas que passará nas pistas do Paris-Dakar, mas também em locais históricos como a lendária cidadela de Ait-Ben-Addou ou as fortalezas quinhentistas portuguesas. Dura até dia 8 de Fevereiro e aqui se inicia o seu diário.
por Rui Cardoso
Ainda não tinha raiado a aurora e já estávamos a sair de Meknes, não muito longe da capital marroquina (Rabat) e da lendária cidade de Fez, para uma etapa com mais de 400 km que nos levaria a cruzar as montanhas do Atlas, rumo a sul e às portas do deserto. Apresentemos os expedicionários: duas dezenas de pessoas em oito 4x4, todas com um bom par de anos de TT, entre competição e organização das provas do ACP Motorsport, capitaneadas por alguem que conhece Marrocos como as suas mãos: Orlando Romana.
Em bom rigor a viagem tinha começado na véspera com a sempre trabalhosa passagem da fronteira (neste caso no porto de Tânger) e uma etapa de 400 km ao longo das planícies costeiras, muito habitadas e cultivadas, passando perto de lugares que conhecemos dos livros de História: Arzila (ocupada pelos portugueses entre 1471 e 1550) ou Ksar-el-Kibir (para nós Alcácer-Quibir), cenário duma derrota lusa que mudou o curso da História).
As estradas que fomos percorrendo ilustram a forma como este país se tem transformado: auto-esteadas que fariam inveja a muitas regiões portuguesas e um parque automóvel a anos-luz de outros tempos, esmagadoramente dominado pelos Dacia, aqui fabricados. Novidade recente, a presença, noite e dia, de carrinhas paradas na berma, festivamente iluminadas, possuindo máquina de café, bolos e tudo o que a fome do viajante peça.
Manto de neve
Quando começámos a subir os contrafortes do Atlas a partir de Azrou, a chuva transformou-se em neve, cobrindo as florestas de cedros e as encostas de um branco a perder de vista. O ponto culminante desta estrada nacional 13 (entre Azrou e Ar-Rachida) ocorre quase a 2200 m de altitude e, embora os limpa-neves circulassem por prevenção, passava-se sem problema, excepção feita a um condutor local que aprendeu à sua custa que o gelo escorrega, dando um monumental capotanço, felizmente sem consequências graves.
A descida para a planície deixou a neve e a chuva para trás, mas logo se impôs a ascensão a novos contrafortes do Atlas, com a estrada 13 a seguir o serpenteante vale do rio Ziz, desembocando na portentosa albufeira de Assam Addakhil Tirhiourine, já às portas de Ar-Rachida e das primeiras paisagens desérticas.
Às portas do deserto
Numa expedição feita com veículos 4x4, o dia não podia terminar sem um percurso fora de estrada com quase 70 km. As pistas, inicialmente pedregosas, foram ganhando alguma areia, aperitivo para os trajectos de segunda e terça-feira que passarão em locais tornados famosos pelo Paris-Dakar como Erfoud, Merzouga e o cordão de dunas do Erg Chebby.
Veremos se a pick-up KGM (antiga SSang Yong) Musso que conduzo desde Lisboa mantém o seu desempenho sem mácula (200 cv, motor turbodiesel, caixa automática, chegou a fazer consumos de 6,5 litros aos cem) e se desenvencilha na areia solta. Em quatro pick-ups, três jipes e um SUV alguém há-de escapar…