Usados importados acentuam envelhecimento do parque automóvel

| Revista ACP

Números da ACAP dão conta de que o parque automóvel nacional está mais velho e poluente.

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O envelhecimento do parque automóvel nacional é um problema há muito abordado pelo ACP, mas os números revelados pela ACAP mostram que está longe de ser resolvido.

Com efeitos claros na sinistralidade rodoviária e no aumento das emissões de gases poluentes, o envelhecimento do parque automóvel português tem várias causas.

Contactado pela Revista ACP, o Standvirtual, que analisa frequentemente as tendências do mercado automóvel em conjunto com a ACAP, apresenta algumas das razões na base deste envelhecimento.

Segundo Nuno Castel-Branco, Diretor-Geral do Standvirtual, a primeira causa é a falta de incentivos que permitam uma renovação efetiva do parque automóvel.

A maior longevidade dos veículos também tem contribuído para o aumento da idade média dos automóveis em circulação em Portugal, mas há um fator que se destaca: a importação de automóveis usados.

 

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No ano passado foram importados para Portugal 106 mil automóveis ligeiros de passageiros usados, um aumento de 33,7% face a 2019.

A idade média destes era de 8 anos, valor que não ajuda a reduzir uma média de idade do parque circulante nacional que já se fixa nos 14 anos, um novo recorde e o dobro do registado no ano 2000.

Para a ANECRA, são várias as causas na base do crescimento da importação de automóveis usados.

Roberto Gaspar, Secretário-Geral da ANECRA, começa por explicar que o desfasamento entre a oferta de viaturas novas e a procura por parte dos consumidores ajudam a explicar, parcialmente, o aumento das importações.

Roberto Gaspar afirma que “nos últimos anos os consumidores têm sido «encaminhados» para as viaturas elétricas, o que faz com que uma parte dos consumidores não encontrem entre a oferta de viaturas novas propostas que vão ao encontro das suas necessidades (…) seja porque não podem ter um elétrico, seja porque mesmo as propostas a combustão estão cada vez mais caras”.

Este desfasamento entre a oferta de viaturas novas e a procura dos consumidores fica evidente nos números alcançados pelos modelos a gasóleo no mercado de usados.

Numa altura em que cada vez mais construtores abandonam estas motorizações, a verdade é que entre os usados as propostas com motor a gasóleo continuam a dominar, com 44% dos veículos importados em 2024 a terem motor Diesel.

As propostas a gasolina corresponderam a 32% das importações e os elétricos a apenas 13%.

A mudança do cálculo do ISV trazida pelo novo Orçamento do Estado também veio fomentar a importação de usados, com este processo a tornar-se, em alguns casos, entre 10 a 15% mais barato.

Como renovar o parque automóvel?

Face a todos estes desafios, a Revista ACP perguntou aos especialistas contactados para a realização desta peça como será possível incentivar a renovação do parque automóvel nacional.

A solução parece passar pela criação de um incentivo ao abate com maior abrangência.

O Secretário-Geral da ANECRA recorda que o atual incentivo dificilmente se aplica aos potenciais compradores de uma viatura elétrica.

Já o Diretor-Geral do Standvirtual pede a criação de incentivos que não só se foquem nos automóveis elétricos e novos, mas também em viaturas usadas mais recentes.

Recorde-se que o incentivo ao abate de viaturas em fim de vida foi uma proposta do ACP que avançou, em parte, no Orçamento do Estado de 2025.

O incentivo ascende aos 4000 euros e além de requerer a entrega para abate de uma viatura com mais de 10 anos, implica ainda a compra de um veículo novo 100% elétrico cujo preço não ultrapasse os 38 500 euros.

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