As declarações do Ministro do Ambiente e da Transição Energética sobre o futuro dos automóveis são, mais do que alarmistas, altamente preocupantes. Revelam uma enorme ignorância sobre a matéria e um absoluto desrespeito pelos consumidores.
O senhor Ministro da Transição Energética revela também um enorme conflito interior ao defender a contratação da potência elétrica mais baixa para as famílias pouparem na conta da luz, ao mesmo tempo que decreta uma eletrificação massiva do parque automóvel.
O Automóvel Club de Portugal repudia veementemente a leveza e o desconhecimento do senhor Ministro da Transição Energética. A “eficiência” que defende para a eletrificação automóvel esbarra de frente com a realidade e com a economia nacional.
A tecnologia Euro 6 em vigor e a Euro 7, obrigatória em 2023, garantem emissões drasticamente mais reduzidas o que significa que a combustão está para ficar, mais eficiente e ambientalmente sustentável. Já os automóveis elétricos só são ambientalmente mais sustentáveis face aos modelos a combustão com as normas Euro6 se a eletricidade usada for 100% proveniente de energias renováveis.
Atualmente, a maioria dos carros elétricos em circulação têm baterias de lítio e, numa produção em escala, não está assegurada a sua reciclagem nem os seus efeitos ambientais.
Com a ligeireza de um prazo de 4 anos para acabar com os motores a combustão por decreto, o senhor Ministro da Transição Energética tem que esclarecer os consumidores:
- Como pretende assegurar a rede elétrica para um consumo massivo? A atual rede pública de abastecimento para os carros elétricos encontra-se parcialmente danificada e inoperacional, além de estar concentrada apenas nos grandes centros urbanos. O que está a ser feito junto dos grandes distribuidores para a rede pública de eletricidade suportar carregamentos em massa nos prédios e na via pública?
- Como assegura a produção de eletricidade suficiente para sustentar as necessidades de mobilidade pública e privada? Essa produção é ambientalmente sustentável ou, como aponta a Direção-Geral do Ambiente da União Europeia, a produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis, sobretudo centrais a carvão, é a maior fonte individual de emissão de gases de efeito estufa?
- Como é que vai ser a tributação fiscal para os carros elétricos e a sua implicação na fatura da eletricidade doméstica? Ao defender um consumo de massas, terá o senhor Ministro da Transição Energética noção das implicações dessa medida na receita fiscal do Estado?
- O que é que pretende fazer ao parque automóvel superior a 5 milhões de viaturas a combustão atualmente em circulação? Qual é a fatura ambiental do desmantelamento deste parque?
- Como está a ser negociado o fim da combustão com a indústria sedeada em Portugal, nomeadamente com a Autoeuropa, líder das exportações nacionais, que apenas fabrica carros a combustão?
- As suas opiniões são partilhadas pelos seus pares de Governo?
Lisboa, 29 de janeiro de 2019.