Obras da Câmara - Incompetência e desrespeito pelos lisboetas

| Revista ACP

Comunicado Automóvel Club de Portugal

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) iniciou um vasto conjunto de obras na rede viária, muitas delas com fortes implicações no funcionamento do sistema de acessibilidades da cidade, sem ter minimamente em atenção as suas consequências para quem vive ou trabalha em Lisboa.

No âmbito das discussões sobre o projeto para a Segunda Circular ou da intervenção no rebatizado “Eixo Central” de Lisboa, a CML acolheu a parte das propostas do ACP que não punham em causa os objetivos políticos definidos para estas duas intervenções, mas que permitiram melhorar significativamente as propostas iniciais. 

A CML comprometeu-se a intervir prioritariamente na melhoria da capacidade de funcionamento das transversais, de acordo com um conjunto de propostas então apresentadas pelo ACP. Mas, ao contrário do que prometeu, a CML lançou-se na obra do “Eixo Central” (e em breve na da Segunda Circular) sem que nenhuma destas intervenções tivesse ocorrido, nem sequer começado.

Para disfarçar os problemas que essas obras estão a provocar, a CML adotou medidas que ainda agravaram mais a situação nas transversais existentes nesta zona da cidade ou em arruamentos que podiam contribuir para aliviar o tráfego que circula no “Eixo Central”, ao mesmo tempo que lançou novas obras que funcionam como verdadeiros estrangulamentos às possíveis alternativas:

Obras na Rua 1º de Maio em Alcântara, o que não só dificulta o acesso à Av. de Ceuta, pois todo o tráfego, incluindo o dos autocarros, foi desviado para a Av. da Índia, sem que fossem alterados os tempos de semáforo no cruzamento de Alcântara-Mar e disponibilizando apenas uma via para ligar esta avenida à Av. de Ceuta, através da R. de Cascais. Com as obras no Cais do Sodré e o estrangulamento na Av. Infante Santo, diminui-se assim a capacidade de acesso à única via transversal alternativa para aceder à zona das Avenidas Novas sem passar pelo “Eixo Central”. As filas de trânsito chegam a Belém, mesmo fora do período de ponta da manhã.

Manutenção do estrangulamento no final da R. Marquês de Fronteira, o que, com a introdução de uma nova fase nos semáforos do cruzamento da Av. António Augusto Aguiar para dar acesso ao El Corte Inglês, provoca o colapso do funcionamento deste cruzamento, bloqueando a Praça de Espanha. As filas na Av. de Ceuta chegam até ao Aqueduto das Águas Livres e na Av. dos Combatentes até à Embaixada dos EUA.

Colocação de polícias nos cruzamentos com a Av. da República que dificultam o escoamento do tráfego nas transversais, ao permitirem que só num em dois tempos de verde se possa atravessar esta avenida.

Introdução de estacionamento nos dois lados da Av. Miguel Bombarda, mal sinalizado e sem marcação das duas vias de tráfego que sobram, o que, a somar às outras intervenções desastradas nesta zona, só causou mais dificuldades no atravessamento da Av. da República. As filas de trânsito chegam até à Praça de Londres.

Anúncio da passagem a sentido único da R. Filipa de Vilhena para introdução de uma pista ciclável, o que irá contribuir para o fecho de mais uma alternativa de ligação norte-sul na zona das Avenidas Novas, passando então esta rua a funcionar como eixo de atravessamento.

Mau desenho nos acessos provisórios ao túnel do Marquês a partir da Av. Fontes Pereira de Melo, o que, agravado pela não correção dos tempos dos semáforos no cruzamento com a Av. António Augusto Aguiar, aumenta os efeitos do estrangulamento devido às obras no “Eixo Central” nesta zona e congestiona ainda mais toda a Av. Fontes Pereira de Melo.

Não contente com a inversão das prioridades de intervenção na rede viária de Lisboa e com o abandono dos programas de articulação entre o transporte individual e o colectivo, a CML manifesta, com este tipo de intervenções a eito e sem qualquer avaliação das suas consequências no funcionamento da cidade, um completo desrespeito por quem vive e trabalha na cidade e revela uma incompetência que não é admissível em quem gere uma capital europeia. 

A secundarização do papel e a marginalização dos serviços técnicos de tráfego da CML, só veio piorar a situação do trânsito em Lisboa e demonstrar que decisões políticas que não se baseiam em estudos sérios e em técnicos habilitados para os realizarem, têm consequências nefastas para todos e para a cidade.


Lisboa, 27 de maio de 2016.

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