Responsável pelos destinos da Stellantis até há bem pouco tempo, Carlos Tavares não poupou nas críticas às políticas de eletrificação europeias numa recente entrevista à CNN Portugal.
De acordo com o executivo português, a política de transição energética levada a cabo pela União Europeia resulta de uma “reação emocional, pouco madura, não estratégica, devido à batota com os veículos diesel da Volkswagen [n.d.r o escândalo Dieselgate]” e por essa razão foi “muito mal preparada pela União Europeia”.
Carlos Tavares prosseguiu e afirmou mesmo que “é um erro impor tecnologia, o veículo elétrico, em vez de definir objetivos sem a obrigação de usar tecnologia”, especialmente quando estas políticas afetam um setor que emprega 14 milhões de pessoas na Europa.
Segundo o ex-diretor executivo da Stellantis, o automóvel é um “instrumento fundamental da liberdade de movimentos de que faz parte a fundação das democracias modernas”.
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Carlos Tavares acusa os decisores europeus de, aquando da delineação da política de transição energética de se terem esquecido “de um facto fundamental: um estudo de impacto para explicar que a transição iria ter consequências no mundo do trabalho de dimensão social na indústria automóvel”.
O executivo prosseguiu, explicando: “Se a estrutura de custo de um veículo elétrico fica 40-50% acima que um veículo térmico (…) as empresas vão custear esta tecnologia acelerando a sua produtividade para absorver a margem ou transferindo-o para o cliente final".
Depois de afirmar que “É impossível transferir esse custo adicional” para o cliente, Carlos Tavares alertou que, para fazer face a estes custos superiores, “as empresas vão ter de tomar decisões impopulares de redução de emprego e aceleração da produtividade”.
Para Carlos Tavares, as decisões dos políticos europeus levaram o setor até “um beco sem saída”, principalmente porque, como alerta, a procura por veículos elétricos está na casa dos 10% e as metas europeias apontam para os 20% de quota já em 2025, sendo que as marcas que não cumprirem incorrem coimas pesadas.
Acerca destas regras, Carlos Tavares afirmou que “as regras vão criar coimas que vão impactar construtores automóveis, que vão ter consequências sociais. O Parlamento Europeu e os líderes europeus esqueceram-se da dimensão social”.
Para fazer face a esta ameaça, o antigo diretor executivo da Stellantis aponta o caminho: “vamos ter agora de redefinir etapas mais progressivas e encontrar equilíbrio entre a procura natural do mercado, 10%, e as metas que estão fixadas 25%. A União Europeia vai ter de repensar a sua estratégia de maneira mais pragmática e menos dogmática”.